Em petição, os defensores apontam o surgimento de novos fatos a partir do reexame das provas feitas pelo Projeto Mirante, grupo multidisciplinar subsidiado pelo Ministério da Justiça. O Ministério Público decide agora se aceita ou não o pedido para reabrir o caso. Rebecca Santos, 7, e Emily Victória da Silva, 4, atingidas por um disparo de fuzil, calibre 7,62, em 4 de dezembro de 2020 Reprodução A Defensoria Pública do Rio de Janeiro pediu ao Ministério Público estadual para que as investigações sobre as mortes das meninas Emily Victória da Silva e Rebecca Beatriz Rodrigues Santos sejam reabertas. As meninas morreram em 4 de dezembro de 2020, vítimas por um único tiro, enquanto brincavam na porta de casa, na favela do Sapinho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Emily, então com 4 anos, foi atingida na cabeça. Rebecca, de 7 anos, no peito. Famílias e vizinhos sempre disseram que o disparo foi feito por policiais militares do 15º BPM (Duque de Caxias). Os PMs sempre negaram o envolvimento com o caso. As investigações da Polícia Civil e do Ministério Público levaram a outra direção e a apuração foi arquivada. Os traficantes Leandro Santos Sabino, conhecido como Trem, e Lázaro da Silva Alves, o Mestre, chefes do tráfico na região, foram apontados como responsáveis pela morte de Emily e Rebecca. O documento afirma que vigias do tráfico avistaram a viatura da PM na Avenida Gomes Freire, e os mandantes ordenaram que matassem os agentes. Os responsáveis pelas disparos ainda não foram identificados. Peritos do Mirante reconstruíram o cenário da comunidade do Sapinho com Emily e Rebecca em 3D Reprodução Treze dias depois do crime, a perícia da Secretaria de Polícia Civil do RJ analisou a bala encontrada no corpo de Rebecca, mas o laudo foi “inconclusivo”. O resultado descartou a possibilidade de uma bala ter saído de um fuzil calibre 556, como mostrado uma reportagem da TV Globo. Em seu pedido, o Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh), da Defensoria alega que o surgimento de novos fatos possibilita pela lei o desarquivamento do caso. Na petição, os defensores André Castro e Maria Júlia Baltar da Rocha não têm dúvida em afirmar que o tiro que atingiu as meninas pode ter sido dado por um policial: “A análise técnica dos fatos revela, sem margem de dúvida, a existência de elementos mais do que é suficiente para se apontar a responsabilidade dos agentes de estado pelo disparo de arma de fogo que vitimou as crianças Emily e Rebecca” Para se chegar a esses fatos o Nudedh pediu apoio ao Projeto Mirante grupo multidisciplinar formado por peritos professores pesquisadores com sede na Universidade Federal Fluminense (UFF) e que é subsidiada pela Secretaria de o à Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Com base nas informações oficiais disponíveis, o grupo realizou um reexame das provas que constavam no processo. A partir daí, se reconstruiu situações em 3D tentando mostrar como ocorreram as mortes de Emily e de Rebecca. A análise se dedicou principalmente, a se tentar determinar se o tiro poderia ter partido ou não de dentro da viatura policial. Reprodução em 3D mostra que o mesmo tiro atingido Emily e Rebecca Reprodução O Nudedh e o Mirante apontam algumas lacunas no processo: A apuração: No Registro de Ocorrência há a informação de que um perito foi ao local. Já no processo há a informação de que a perícia não foi realizada por possuir alta possibilidade de um confronto; Perícia: Na reprodução simulada feita pela polícia, chegou a se usar dois manequins no lugar das crianças com um deles em cima de uma caixa, sem indicar a altura das meninas. Rebecca era maior que Emily. Mas a posição dos manequins era diferente daquela que foi dita pelas testemunhas; Armas: As meninas foram atingidas por um mesmo tiro, ou de uma arma com calibre 7,62. No livro do batalhão, foram encontradas imprecisões das armas portadas pelos policiais. A numeração não era a mesma e o livro estava rasurado. Trajeto da viatura policial O caminho feito pelo patamo do 15º BPM (Duque de Caxias) no dia em que as meninas morreram é uma coisa que chamou a atenção dos defensores públicos. Emily e Rebecca brincavam na rua Mário Paulino, 52 metros da Avenida Gomes Freire. Testemunhas do caso e parentes das meninas sempre dizem que viram um carro da PM ar pela avenida principal em baixa velocidade. Viatura da PM é flagrada em câmera ando na esquina da rua onde estavam Emily e Rebecca Reprodução Imagens de uma câmera de segurança, obtidas pelos peritos do Mirante e pela Defensoria, mostram que realmente uma viatura da PM ou pelo local. Ao analisar o GPS da viatura, constatou-se que, entre 20h12 e 20h41, daquele 4 de dezembro de 2020, o veículo estava parado na Avenida Gomes Freire, a 5 quarteirões da esquina com a Mário Paulino. Às 20h42, ele começa a se movimentar, em baixa velocidade, algo em torno de 16 a 23 quilômetros por hora. Às 20h44, os PMs chegam até a esquina com a Mário Paulino. O horário é aproximado do que é relatado no Boletim de Ocorrência como a hora em que as meninas foram baleadas (entre 20h30 e 21h). O GPS mostra que a via foi abalada pela Avenida Gomes Freire e foi até a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), da Mangueirinha. Chegou lá às 21h04 e ficou estacionado até às 22h20. Em seus depoimentos, os 5 policiais, que não estavam em veículo, contaram que não saíram mais do local e que ficaram na UPP de forma “definitiva devido ao ataque aos tiros” na região. Mas o GPS mostra que às 22h20, tem início um novo posicionamento e o carro volta ao mesmo ponto só que por outro trajeto, o que contradiz o depoimento dos PMs. Novamente, a viatura trafegou em baixa velocidade: entre 17 e 23 milhas por hora. Para a Defensoria, esses são alguns dos elementos para discutir o caso. De acordo com peritos havia ângulo para, na posição dos PMs, um disparo atingisse Emily e Rebecca Reprodução
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