A desvalorização do real frente ao dólar, que atingiu 27% no ano ado e se intensificou nos últimos meses de 2024, começa a pressão na Petrobras para reajustar os preços dos combustíveis nas refinarias. Um dos motivos é a defasagem nos preços.
Cálculos da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom) nesta terça-feira (7) indicam que a defasagem no preço da gasolina é de R$ 0,27, ou 9%, em relação ao mercado internacional. No diesel a diferença é de R$ 0,49, ou 14%.
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), na última semana, o preço médio da gasolina comum nas bombas no país foi de R$ 6,15, e o do diesel, R$ 6,06.
De acordo com a Genial Investimentos, dependendo da persistência desse cenário, o efeito será mais evidente no segmento de refino e comercialização da Petrobras. “Em um cenário extremo e prolongado de subsídios nos preços, as importadoras podem enfrentar dificuldades para abastecer o mercado brasileiro”, afirma a equipe de análise da corretora.
Outras consultorias e instituições também apontam o problema. O BTG Pactual calcula que os preços do diesel e da gasolina estão defasados em 10,8%, acima dos índices registrados na semana anterior (10,2% e 8,2%, respectivamente). Já a XP Investimentos estima que os preços da refinaria da Petrobras apresentem um desconto de 12,1% para o diesel e 8,7% para a gasolina.
Na avaliação da LCA 4intelligence, a gasolina está 11% abaixo do preço internacional de referência, e o diesel, 15%. Ao considerar a mídia móvel dos últimos 30 dias, as defasagens caíram para 5% e 10%, respectivamente.
Eventual alta no preço dos combustíveis seria sentida pelos motoristas 38714h
Um eventual reajuste nas refinarias por parte da Petrobras terá reflexos significativos no bolso dos consumidores, especialmente em um ano em que as projeções para o aumento médio dos preços estão em torno de 5%.
Bruno Imaizumi, economista da LCA 4intelligence, destaca que a gasolina tem maior impacto direto sobre o consumidor final, enquanto o diesel afeta principalmente os caminhoneiros e os custos de frete. Isso, por sua vez, repercute nos preços de bens e serviços.
Ele calcula que um reajuste que elimine as defasagens atuais pode elevar a inflação em 0,1 ponto percentual. “Essas alterações foram renovadas, o que consideramos pouco prováveis de forma integral, nossas projeções para o IPCA de 2025 subiriam de 4,7% para 4,8%”, avalia Imaizumi.
Petrobras diz estar atenta aos movimentos do mercado a4k4c
A Petrobras afirmou que acompanha os movimentos do mercado, mas não antecipa decisões por razões concorrenciais. Desde maio de 2023, a empresa desenvolveu uma nova estratégia de preços, chamada de “abrasileirada”, que abandonou o regime de paridade de importação (PPI), baseado na variação da cotação do petróleo e da moeda americana.
A nova política considera as condições de produção e logística da Petrobras para definir os preços de combustíveis. “Fazemos isso em equilíbrio com os mercados nacionais e internacionais, e operando nossos ativos de maneira segura, otimizada, sustentável e rentável”, disse à Gazeta do Povo.
A estatal ressaltou que essa abordagem contribuiu para resultados sólidos, como uma caixa operacional de R$ 62,7 bilhões e um fluxo de caixa livre de R$ 38 bilhões no terceiro trimestre de 2024.
Postura da Petrobras é criticada por importadoras de combustível 64ra
Sérgio Araújo, presidente-executivo da Abicom, alerta que preços abaixo do mercado geram impactos negativos.
“Isso prejudica a previsibilidade para importação, afetando os resultados da Petrobras, afetando o lucro dos acionistas e interferindo nas negociações de biocombustíveis, além de criar dificuldades para outros produtores no mercado brasileiro.”
Araújo defende um reajuste que alinhe os preços ao mercado internacional. Ele também destacou o efeito da desvalorização cambial: “A Petrobras está com preços congelados tanto da gasolina quanto do diesel, e talvez esse seja o grande responsável por tão elevada defasagem. Estamos vivendo um momento em que também as commodities da gasolina, óleo diesel e petróleo também sofrem níveis elevados com tendência de manter-se elevados. Isso indica que essas defasagens devem ser mantidas até com risco de aumento”.